A bioquímica da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)

             

Mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo são hipertensas sendo 90% dos casos hereditária, porém os hábitos de vida do individuo influenciam no diagnóstico da Hipertensão Arterial (HA) ou pressão alta como é comumente chamada. A Hipertensão Arterial é uma condição clinica multifatorial caracterizada elevação da pressão sanguínea nas artérias acontecendo quando os níveis pressóricos são iguais ou ultrapassam 140/90 mmHg (ou 14 por 9), isto é, a pressão alta faz com que o coração tenha que exercer um esforço maior do que o normal para fazer com que o sangue seja distribuído corretamente no corpo. A HA é um dos principais fatores de risco para ocorrência de afecções cardiovasculares podendo levar a diversas patologias como, por exemplo, Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), Acidente Vascular Cerebral (AVC), Insuficiência Cardíaca (ICC), entre outras. Por ser considerada uma condição clínica multifatorial, sua condição esta frequentemente associada a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares.  Mesmo sendo uma patologia que na maioria dos casos é hereditária possui diversos fatores que influenciam nos níveis de pressão arterial, entre eles: excesso de peso, sedentarismo, estresse, níveis altos de colesterol, consumo exagerado de sal e bebidas alcoólicas, tabagismo. Além desses fatores de risco, sabe-se que a incidência da pressão alta é maior na raça negra, em diabéticos, e aumenta com a idade principalmente indivíduos acima de 50 anos.


Fonte: USP
A pressão arterial é mais comumente verificada pelo esfigmomanômetro, aquele aparelho que é usado pela equipe de enfermagem nas urgências e unidades básicas. Esse aparelho é composto por uma braçadeira que dentro possui uma bolsa inflável, pelo bulbo que é a bombinha e de um manômetro que é o relógio medidor de pressão. O esfigmo (como é carinhosamente chamado pela equipe de enfermagem) é usado com o auxílio de um estetoscópio. Ele funciona baseado no princípio de que a pressão externa sobre um vaso sanguíneo, no caso a artéria braquial, não pode ser maior que a interna para haver fluxo sanguíneo. Quando o fluxo do sangue por um vaso é ausente ou constante nada se ausculta, diferente do que ocorre com um fluxo descontínuo. Ao comprimir a artéria braquial até que nada se ausculte está se obstruindo o fluxo de sangue na região, no caso está anulando a pressão sistólica que em condições fisiológicas situa-se em torno de 120 mm/Hg. Por outro lado, quando voltamos a diminuir a pressão sobre a artéria braquial até que mais uma vez nada se ausculte, significa que a pressão mínima ou diastólica é suficiente para garantir a continuidade do fluxo sanguíneo, onde em condições fisiológicas situa-se em torno de 80mm/Hg. 

Na regulação da pressão arterial a sua queda promove a liberação de uma enzima renal chamada renina que é liberada pelas células justaglomerulares dos rins. A liberação da renina é estimulada através da redução do fluxo sanguíneo renal, da redução da ingesta de sódio na dieta e do estímulo β-adrenérgico nas células justaglomerulares, assim ativando a angiostensina. A pressão alta ocorre porque a angiotensina promove a contração das paredes musculares das arteríolas, além disso, ela provoca a liberação de aldosterona pelas glândulas adrenais, que, consequentemente, gera a retenção de sódio e a excreção de potássio. HAM? COMO ASSIM?
Fonte: Blog hipertensão

O sistema renina angiotensina (SRA) é uma via importante que influência no controle homeostático da PA, é um sistema complexo iniciado pela liberação da enzima renina devido à baixa concentração de sódio ou baixa pressão arterial e com o angiotensinogênio, substrato da renina, que é produzido pelo fígado e está presente no sangue. O angiotensinogênio é uma substância precursora da Angiotensina I (Ang I) que não apresenta ação vascular que então é convertida em Angiotensina II (Ang II), reação esta catalisada pela Enzima Conversora de Angiotensina (ECA). Assim a Ang II se liga e ativa os receptores específicos chamados AT1 e AT2, promovendo vasoconstricção e liberação do hormônio Aldosterona pelo glândula Adrenal. A Aldosterona promove a secreção do potássio (K+) e reabsorção de Sódio (Na+), que resultará no aumento da pressão arterial. Esse mecanismo é conhecido como Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (SRAA).
Fonte: Revista HUPE

Outro mecanismo regulador da PA é o endotélio vascular, órgão vital que tem como objetivo sintetizar diversos vasodilatadores e vasoconstritores, sendo assim, responsável pela regulação da PA. O endotélio sadio possui diversas funções como anticoagulante, vasodilatação e anti-inflamatória que são essenciais para a manutenção da homeostasia. O endotélio pode também gerar fatores mediadores conhecidos por EDCFs, como a endotelina, a angiotensina II, a brandicina, o óxido nítrico, entre outros fatores de crescimento. Sendo a endotelina um potente vasoconstritor e fator de crescimento que tem um grande papel na hipertensão arterial.  As endotelinas existem em três formas descritas: a ET-1, ET-2 e ET-3, sendo a ET-1 de maior relevância biológica onde possui muitas propriedades que resultam não somente na elevação da PA, mas também em complicações nos órgãos envolvidos com a HA. Outras substâncias vasodilatadoras produzidas no endotélio são o óxido nítrico e a brandicina que participam na regulação da PA.  Portanto numa disfunção endotelial, ocorre predomínio de substâncias vasoconstritoras que induzem o aumento da PA.

Outro mecanismo que regula a PA é a regulação eletrolítica, onde o sódio (NA+) intracelular é elevado nas células sanguíneas e de outros tecidos durante a hipertensão, resultado de anormalidades nos mecanismos de transporte de Na+ e de K+.  Um aumento do Na+ intracelular provoca o aumento da concentração de Ca2+ intracelular o que origina um aumento do tônus vascular e da PA.

Fonte: Jean Webquest

Depois de conhecermos um pouquinho da bioquímica da HAS, é importantes sabermos que as principais recomendações não medicamentosas para prevenção primária da HAS são: Redução do peso corporal, redução da circunferência abdominal e gordura corpórea (IMC), redução da ingestão de sódio diária ( de 2g Na ou 5g NaCl), redução da ingestão de álcool (30g de etanol por dia), exercício físico regular (30min 5x por semana) e evitar drogas que podem elevar a PA. Mas quando diagnosticado com HA, o hipertenso deverá seguir a terapêutica farmacológica, que consiste no uso de anti-hipertensivos.  

Os anti-hipertensivos devem não só reduzir a pressão, mas também os eventos cardiovasculares fatais e não fatais consequentes da Hipertensão Arterial. As evidências provenientes de estudos de desfechos clinicamente relevantes, com duração curta de 3 a 4 anos, demonstraram redução de morbidade e mortalidade em estudos com diuréticos, mas também com beta-bloqueadores, inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), bloqueadores dos receptores de AT1 da angiotensina ll e com bloqueadores dos canais de cálcio, embora a maioria dos estudos utilize, no final, associação medicamentosa. O captopril e os outros fármacos incluídos neste grupo atuam sobre o RAAS inibindo a enzima que hidrolisa a angiotensina I em angiotensina II e impedindo a degradação da bradicinina, um potente vasodilatador. Os ARA são bloqueadores específicos dos receptores da angiotensina II. Partilham de algumas propriedades com os IECA. Porém, ao contrário destes não interferem com o metabolismo da bradicinina e, portanto, são bloqueadores mais seletivos dos efeitos da angiotensina.



Contudo, a HA é caracterizada como uma doença que afeta um grande número de pessoas e tem uma elevada taxa de mortalidade devendo por isso o seu tratamento deve ser iniciado o mais breve possível. Iniciando-se assim com medidas não farmacológicas, através da alteração do estilo de vida e novos hábitos alimentares. Quando estas medidas, por si só, não são suficientes para permitirem o controlo da PA, deve recorrer-se aos fármacos anti-hipertensores. 

REFERÊNCIAS UTILIZADAS

1.                 I Circulation – American Heart Association, LINK 
2.                 DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO. Sociedade Brasileira de Cardiologia/ Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, n. 95, supl.1, p. 1-51, Dec. 2010.
3.                 Clínica médica, vol 2. Doenças cardiovasculares. Barueri, SP, Manole, 2009;
4.                 Emergências Clínicas: abordagem prática/Herlon Saraiva Martins...(et al. ), 4° ed. ampl. e rev. – Barueri, SP: Manole, 2009;
5.                 HALL, John Edward. Guyton e Hall fundamentos de fisiologia. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2017.
6.                  Matos. H. R. Vasconcelos, L. O. Hipertensão Arterial Sistêmica. Universidade Federal de Sergipe. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde - CCBS, Departamento de Fisiologia, Disciplina Bioquímica. Sergipe, 2018. 2017.

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