Fonte: Google Docs |
A abordagem da temática sexualidade e gênero
ainda tem sido considerada um tabu permeado de valores morais e preconceitos,
onde muitas crianças e adolescentes desenvolvem-se sem ter espaço para dialogar
e com suas dúvidas e expectativas reprimidas, sendo pelo fato da sociedade
rotular tal assunto como algo obsceno e proibido dificultando assim o dialogo
entre filhos/pais e alunos/escola sobre determinada temática. As pessoas tem associado sexualidade com a
definição de ato sexual, confundindo com o conceito do sexo propriamente dito,
mas estudos evidenciam que a sexualidade não se limita somente as práticas
sexuais, sendo o sexo apenas uma das ramificações desse tema. Segundo a
Organização Mundial de Saúde – OMS (1999) a sexualidade é caracterizada como
uma energia que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos
tocados, isto é, intimidade e ser sensual e sexual, ultrapassando os aspectos
biológicos e reprodutivos.
Educar sexualmente consiste em proporcionar condições favoráveis para
que o sujeito assuma seu corpo e sua sexualidade com atitudes livres de vergonha,
de medo, preconceitos ou tabus. Os Estudos
e Comunicação em Sexualidade e Reprodução Humana – ECOS deixa claro que a
educação sexual deve ser vista como um direito das crianças e/ou adolescentes,
onde os mesmos tem a liberdade de poder conhecer o seu corpo e ter uma
perspectiva positiva de educação sexual saudável com princípios e hábitos
harmônicos com a valorização da vida e dos direitos humanos. Além do âmbito familiar, a escola também tem papel importante na
educação sexual, onde para que o respeito à diversidade aconteça à instituição
e os docentes precisam abordar, desde educação infantil até o ensino superior,
o assunto. Bem como entender e saber ensinar os conceitos importantes para a
desconstrução do preconceito referente a gênero, sexualidade e diversidade
sexual.
Fonte: escreva lola escreva |
Abordar esse tema na prática pedagógica
ainda é um desafio, uma vez que a escola, bem como outros cenários da
sociedade, ainda é influenciada por uma cultura sexista e heteronormativa onde os padrões culturais de gênero e
sexualidade são traçados historicamente e reproduzidos por diversos âmbitos
sociais como na família, igreja e bem como na própria escola. Esses âmbitos
sociais exercem forte influência na aprendizagem e desenvolvimento do
individuo, por meio de preceitos e referências sobre comportamentos considerados
adequado, sendo coagido desde cedo para as crianças e, na maioria das vezes,
pelos próprios professores. Sob outra perspectiva, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Básica propõe que cabe a escola o papel de estabelecer uma cultura de direitos
humanos para preparar cidadãos íntegros, destinando a múltiplos sujeitos e
objetivando a permuta de saberes, a socialização, e o
confronto do conhecimento conforme diversas abordagens desempenhadas por
pessoas de diferentes condições físicas, sensoriais, intelectuais e emocionais,
classes sociais, crenças, etnias, gêneros, origens, contextos socioculturais, e
da cidade, do campo e de aldeias, fazendo da escola uma instituição acolhedora
e inclusiva.
Cada vez mais as
crianças exteriorizam a não conformação aos padrões de gêneros esperados em
relação ao sexo que nasceram, seja manifestando através da escolha por roupas e
brinquedos que são socialmente tidos para gênero oposto ou exprimindo insatisfação
com o próprio corpo expressando o anseio pela mudança, encontrando, na maioria
das vezes, uma resistência na aceitação e punição por tais comportamentos. Sendo que no cenário escolar, o bullying se torna presente na
rotina acadêmica dessas crianças sendo que a grande maioria dos
professores estão despreparados para lidar com essa demanda, mesmo tendo noção
do seu papel pedagógico por muitas vezes serem agentes reprodutores da cultura sexista ou devido à preocupação
de ir contra a educação familiar. Diante deste contexto o post tem como objetivo demonstrar os
aspectos da educação sexual no ambiente escolar monstrando a percepção dos
professores sobre a temática, bem como esclarecer conceitos relacionados à diversidade
de gênero e sexualidade, evidenciando os principais desafios encontrados na
formação acadêmica e profissional dos educadores.
O post de hoje trata-se de uma pesquisa
de campo informal desenvolvida através da aplicação de um
questionário online pelo software Google Docs que continha 35 (trinta e cinco)
questões baseadas nos artigos lidos anteriormente a aplicação do questionário. Participaram 34 educadores entre 18 a 50 anos de idade, com a
identidade resguardada, que tivesse ou já tiveram contanto com o âmbito pedagógico
em sala de aula independente dos níveis ou modalidades de educação e ensino.
Foram estabelecidos como critérios de inclusão para o estudo professores
formados ou com a graduação em andamento pedagogia ou alguma licenciatura, que
atuem ou já tenham atuado em sala de aula. Os
dados obtidos contendo informações sobre os
participantes e sua percepção e atuação na educação sexual foram analisados de
forma descritiva e tabulados, de forma a melhorar a visualização dos
resultados. Verificando-se que 5,8% dos participantes são do sexo feminino, onde os resultados obtidos vão de encontro com os dados do IBGE (2000), que afirma que o sexo feminino é dominante em áreas relacionadas à Educação. Devido à relevância de
algumas perguntas e seus resultados apresentados pelos participantes, foram
selecionadas para maior discussão treze perguntas.
Com relação à pergunta “Já participou de algum curso, seminário, programa ou aula sobre Educação
Sexual?” nota-se a predominância da resposta
“sim” (58,8%), apesar de que 45,8% dos participantes afirmaram que tiveram esse
contanto durante o ensino primário ou secundário, outros 45,8% na universidade
e os demais em outro contexto como em serviços de saúde, na igreja entre outros quando perguntados em que contexto tiveram esse contato. Onde a visão sexista e heteronormatizada da sexualidade e do gênero ou a
carência de debates que excedam tais perspectivas nas escolas nos faz
interrogar o papel da universidade na formação de educadores (as) e o tipo de
discussão que é concretizada nas aulas uma vez que a escola é uma das
responsáveis pela condução do processo de ensino-aprendizagem. Outra pergunta feita foi: "Em sua formação profissional, em algum momento você foi
orientado (a) a como lidar com questões relativas à sexualidade?”onde à prevalência foi do “sim” (47,1%), porém o “não” apresentou 44,1%,
sendo que 8,8% dos participantes afirmaram não saber dizer se já foram
orientados dando um destaque.
Quando perguntados "Em qual momento da sua
formação profissional, caso a resposta anterior seja sim, você foi orientado a
como lidar com questões relativas à sexualidade” 40,9% responderam que foram através de debate com outros
colegas/professor, sendo 36,4% através de
palestras/minicursos/aulas abertas e apenas 13,6% através de um componente
curricular obrigatório. A pergunta “Além da sua formação acadêmica, você já participou de
algum curso de capacitação voltado para educadores que abrangesse a questão à
sexualidade?” a grande maioria (91,2%) dos
participantes afirmaram “não” terem participado de algum curso de capacitação
voltado para educadores que abordasse a temática sexualidade. Onde é notória a
ausência da busca pelo conhecimento da temática além do âmbito acadêmico. Em outra pergunta os participantes foram questionados sobre o
que pensam acerca da abordagem da Educação Sexual nas escolas, onde 58,8%
responderam ser “indispensável” e 32,4% como sendo “falha”.
A pergunta “Você frequentemente realiza Educação Sexual
junto dos alunos?” 58,8% dos participantes responderam “não”, sendo um dado
preocupante, onde autores destacam o quanto é importante o conhecimento e a ação ajustada na
coerência e no cunho pedagógico com a finalidade de proporcionar a formação de
cidadãos preparados para operar na sociedade bem como enfrentar e quebrar
tabus erguidos no meio social. Onde outros autores asseguram que educadores
(as) atuantes não tiveram acesso a uma formação e a uma linguagem que lhes
permitam criticar e transformar o suficiente as práticas culturais e sociais
existentes assim muitos professores têm dificuldades em
nortear seus alunos que podem ser por razões pessoais, por receio da família
do aluno, por falta de subsídios voltados na campo da sexualidade e até mesmo
por falta de orientação e de recursos metodológicos que o auxilie a compreender
e efetivar uma educação sexual adequada. Sendo que a os educadores que realiza
a Educação Sexual juntos dos seus alunos, afirmaram realizar essa educação por
estarem relacionadas
com os conteúdos programáticos que está a desenvolver ou por iniciativa
própria.
Na tabela a seguir referente à pergunta “Quais questões relacionadas à Educação Sexual
você, como professor, aborda ou abordaria nas aulas/atividades junto dos seus alunos?” podemos perceber detalhadamente os assuntos abordados durante a Educação Sexual
realizada pelos participantes.
Fonte: Blog Physics&Health |
A
pergunta “Como professor você se acha capacitado (a) para tirar as dúvidas
dos alunos sobre questões relacionadas à Educação Sexual?” onde 61,8% afirmou
estar capacitado e os 20,6% que rebateram “não” estar capacitado responderam na
questão posterior como sendo os possíveis motivos: “a falta de cursos para capacitação dos professores”, “falta de
recursos”, “questões que envolvem religiões e vão de desencontro”, “por falta
de informações suficientes”, “Pois o professor não é detentor do saber, e nem
sempre tem conhecimento dos valores seguidos por seus alunos e as famílias.”, “Apesar de ter debates em algumas
disciplinas da minha graduação, ainda não me sinto segura em transmitir essas
informações aos meus possíveis alunos. Sempre me sinto envergonhada quando
adentro nesses assuntos, pois desde pequena a educação sexual, pelo menos em
minha casa, foi considerada um "tabu", “Ainda existem muitas lacunas
e tabus sobre o tema”,“Porque infelizmente quando um professor que é gay aborda
esses assuntos, a sociedade e até mesmo os próprios alunos, vão achar que o
mesmo quer influencia-los nas suas "escolhas sexuais.".
A maioria (94,1%) dos participantes afirmaram que a
responsabilidade da Educação Sexual cabe aos pais onde segundo o
levantamento bibliográfico feito anteriormente nessa pesquisa esclarece que
esse papel cabe aos pais como também a escola. Sendo que 61,2% dos participantes
acreditam que a mídia influencia a vida das crianças/jovens diante a sua
sexualidade mas é perceptível que as famílias, em geral,
educam sexualmente, mesmo não falando abertamente sobre o assunto. Apesar disso, pode-se assegurar que a escola é o ambiente no qual a
criança recebe com maior veemência as noções sobre sexualidade. Logo, o
ambiente escolar adota uma função importante na educação sexual, tendo como
papel a orientação de crianças nos aspectos afetivos e cognitivos. Como foi mostrado os participantes em algum momento da
atuação profissional deles já tiveram que lidar com questões relacionadas a
orientações sexuais sendo homossexualidade, bissexualidade ou
heterossexualidade.
Fonte: sinep-mg |
Sendo eles questionados se já presenciaram
alguma situação em sala de aula ou ambiente escolar em
que um (a) aluno (a) foi alvo de comentários maldosos por parte dos colegas por
apresentar comportamentos que não são considerados "culturalmente"
adequados em relação ao seu sexo, onde 64,7% responderam “sim”, 50% recriminou os alunos e explicaram que se deve respeitar as diferenças porém 14,7% relatam não tomar conduta alguma. Em relação aos
conceitos "Identidade de gênero", "expressão de gênero",
"sexo biológico" e "orientação sexual", termos Agênero,
Cisgênero, Transgênero, os participantes alegaram saber diferenciar, porém os mesmo não ensinaram ou não ensinam a diferença
desses conceitos relacionados à sexualidade e diversidade para os seus alunos. Por
fim, 79,4% dos participantes afirmam que na escola
onde atuam, “não” existe algum trabalho de educação sexual sendo desenvolvido.
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