Assistência de enfermagem em distúrbios cardiovasculares

Fonte: edição do brasil
   O sistema cardiovascular é responsável pela circulação do sangue de modo a transportar os nutrientes e o oxigênio por todo o corpo. Tendo funções homeostáticas, isto é,  regula a pressão arterial, carrega hormônios reguladores de seus locais de secreção para seus locais de ação bem como regula a temperatura corporal e faz o ajuste homeostáticos em estados fisiológicos como no caso da hemorragia. Antes de falarmos sobre alguns distúrbios cardiovasculares e a assistência de enfermagem vamos falar um pouco sobre anato fisiologia do sistema cardiovascular. Sabemos que o coração funciona como uma bomba que promove a circulação de sangue por cerca de 100 mil quilômetros de vasos sanguíneos e para funcionar adequadamente ele conta com a presença de dois átrios (AD e AE) e dois ventrículos (VD e VE). Ele também possui a válvulas cardíacas que permitem o fluxo unidirecional do sangue, sendo elas as válvulas atrioventriculares (Tricúspide e Mitral) e semilunares (Pulmonar e Aórtica). 

   Além disso o sistema cardiovascular conta com a ajuda das artérias que são vasos que conduzem o sangue para os tecidos e as veias que também são vasos mas que conduzem o sangue dos tecidos de volta ao coração. O sistema cardiovascular é um sistema fechado pois o sangue que o percorre não deixa o sistema, é um sistema duplo pois contém dois tipos de sangue, um arterial e outro venoso e é um sistema completo pois os dois tipos de sangue não se misturam. Mas e a circulação do sangue como funciona? A circulação sanguínea conta com dois circuitos distintos: o pulmonar que é chamado de pequena circulação que ocorre entre o coração e os pulmões e o sistêmico que é chamado de grande circulação que ocorre entre o coração e as demais partes do corpo humano. Esses dois circuitos por mais que sejam distintos ocorrem em tempo simultâneo graças ao funcionamento adequado das bombas cardíacas, ou seja, o coração é uma dupla bomba cardíaca isto porque cada metade dele encarrega-se de uma das circulações. Enquanto a metade direita trabalha na pequena circulação e metade esquerda na grande circulação. 

   Assim, o sangue venoso, pouco oxigenado que já alimentou todos os tecidos do organismo fornecendo oxigênio chega ao coração por meio da veia cava superior e da veia cava inferior ao átrio direito e em seguida é bombeado para o ventrículo direito e propulsionado para os pulmões por meio da artéria tronco pulmonar onde ocorrerá o mecanismo de hematose (troca gasosa) com a transformação do sangue venoso em sangue arterial, ou seja, o sangue sofre uma depuração que nada mais é do que a perda do gás carbônico resultante das queimas celulares nos vários tecidos do corpo e ganha novo suprimento de oxigênio para redistribuir ao organismo. Todo esse processo é chamado de circulação pulmonar, onde ocorre entre o coração e o pulmão e que, resumidamente, nas artérias contêm sangue saturado e nas veias sangue oxigenado, passando sangue venoso entre o átrio direito e o ventrículo direito. Já a grande circulação ou circulação sistêmica ocorre entre o coração e os tecidos onde nas artérias contêm sangue oxigenado. Nesse processo entre o átrio esquerdo e ventrículo esquerdo passa sangue arterial, rico em oxigênio, que chega ao átrio esquerdo por meio das quatro veias pulmonares, direitas e esquerdas. O sangue bombeado do átrio para o ventrículo esquerdo é imediatamente propulsionado para a parte ascendente da artéria aorta e através de todos os seus ramos o sangue arterial é distribuído para todo o organismo. O sistema cardiovascular possui dois mecanismos importantes, o débito cardíaco (DC) que é a intensidade/velocidade por min em que o sangue é bombeado por qualquer dos ventrículos e o retorno venoso (RV) que é a intensidade/velocidade em que o sangue retorna aos átrios através das veias.

   Depois de entendermos um pouco sobre a anato fisiologia do sistema cardiovascular vamos falar sobre algumas doenças cardiovasculares. Primeiro quero que saiba que fatores como genética, tabagismo, aumento da pressão arterial (PA), hiperlipidemia, hiperglicemia, estresse e aterosclerose são fatores de risco para o surgimento de distúrbios cardiovasculares. A assistência de enfermagem caso ocorra o surgimento desses fatores de risco consiste numa boa anamnese onde o profissional deve pedir que o paciente descreva os sintomas apresentados, investigar os antecedentes patológicos cardíacos e os antecedentes mórbidos familiares bem como os medicamentos em uso e alergias medicamentosas. Outra etapa indispensável na assistência de enfermagem é o exame físico onde deve-se avaliar o aspecto geral do paciente, presença de dor (sinal clássico de isquemia), avaliar os sinais vitais (SSVV) como a temperatura que se estiver elevada pode ser sugestivo de algum  distúrbios cardíacos infecciosos e inflamatórios, avaliar respiração (dispneia, ruidosa), verificar PA e avaliar alterações da pele como cianose, palidez e sudorese.
Fonte: Academia Nacional de Medicina
   A primeira alteração que vamos falar no post de hoje é o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) que é a necrose do músculo cardíaco (miocárdio) em regiões desprovidas de suprimento sanguíneo suficiente, esse distúrbio pode ter como causa o estreitamento de uma artéria devido à aterosclerose ou pela obstrução total de um coronária por trombo e nas hemorragias graves. O IAM tem como manifestações clínicas o formigamento nos membros superiores sendo no MSE mais intenso, dor torácica persistente de inicio súbito que inicia-se sobre a região inferior do externo e abdome superior podendo irradiar-se para ombro e braço principalmente o esquerdo, falta de ar (dispneia), dores nas costas, incomodo gástrico como azia, náuseas e vômitos. O diagnóstico de IAM se dar pela história pregressa e exame físico através da ausculta cardíaca e pulmonar da 3ª bulha e sons estertores de base bem como pelo ECG seriado e detecção das enzimas cardíacas (CPK, CK-MB, TROPONINA), eletrólitos, glicose e hemograma (sódio, potássio e cálcio). O tratamento é feito pelo uso da MONA que é a combinação entre morfina, oxigênio, nitroglicerina e AAS, também pode ser prescrito a estreptoquinase que é um anti-trombolítico que acelera e facilita a destruição dos coágulos que obstruem os vasos sanguíneos bem como a revascularização do miocárdio ou a angioplastia que é um procedimento cirúrgico que consiste na desobstrução da artéria. 

   Agora vamos falar um pouco sobre essas enzimas cardíacas, também chamadas de marcadores de necrose miocárdica. As enzimas CPK, CK-MB e troponina sinalizam a morte de células do miocárdio onde a elevação delas diagnosticam o IAM. Quando o coração não funcionando adequadamente acontece a elevação dessas enzimas cardíacas que são dosadas de forma seriada sendo identificadas de diversas formas como a CK-MB que é uma das formas da Creatina Quínase (CK) que é detectável entre 4 a 6 horas após a lesão miocárdica ocorrendo pico em 12 a 24 horas e retornando a níveis normais em 2 a 3 dias. A creatinofosfoquinase (CPK) é outra enzima cardíaca que se eleva no sangue entre 3 a 6 horas após o início dos sintomas do infarto. Já as troponinas estão presentes no sangue e se elevam entre 4 a 6 horas após os problemas cardíacos começarem e com pico de 12 a 18 horas permanecendo elevada por 6 a 10 dias. Em pacientes com suspeita de IAM não se administra medicamento via intramuscular pois altera o resultado das enzimas cardíacas. 

   A assistência de enfermagem para Infarto Agudo do Miocárdio vai desde acionar o setor de hemodinâmica até a administração dos medicamentos prescritos ou protocolados bem como a monitorização de sinais e sintomas como dispneia, hemoptise, estertores, distensão jugular, pulso filiforme, taquicardia e rebaixamento do nível de consciência. Ações como instalação da  oxigenoterapia suplementar,  monitoração multiparamétrica (monitorar FC, FR, SpO2, PAM), manter cabeceira elevada e ambiente tranquilo para melhor conforto do paciente, providenciar ECG de 12 derivações com urgência e comunicar o laboratório para a coleta de exames preferencialmente as enzimas cardíacas. 

   Outra afecção é a insuficiência cardíaca congestiva (ICC) que é a incapacidade cardíaca em bombear sangue suficiente para atender as necessidades teciduais de oxigênio e nutrientes. A ICC pode ser causada pela aterosclerose, hipertensão arterial (HA), IAM, infecção sistêmica, tromboembolismo pulmonar e tem como manifestações clínicas o aumento da PA, edema de membros inferiores (MMII), tontura, confusão mental agitação, extremidades frias, oligúria, edema agudo de pulmão e dispneia. A ICC pode afetar apenas um dos lados do coração porém ambos os lados acabam sendo afetados conforme o tempo vai passando onde a insuficiência cardíaca esquerda (ICE) à afeta a pequena circulação tendo como manifestações a ortopneia, tosse úmida espumosa, fadiga, taquicardia, aumento da PA já a insuficiência cardíaca direita (ICD) à afeta a grande circulação tendo como manifestações clínicas edema de MMII, hepatomegalia, ascite, anorexia, náuseas, nictúria. 

   O diagnóstico da ICC é feito através da avaliação clinica, laboratorial e ecocardiograma e o tratamento por meio de digitálico como a digoxina e cedilanide, diuréticos e dieta. Esse distúrbio pode desencadear complicações um derrame pleural (DP) que é o acumulo de liquido na cavidade pleural devido o aumento da pressão hidrostática na microcirculação sendo que essa complicações podem serem identificadas pelo raio X através da ausência do seio costofrênico do pulmão, tosse seca, tiragens intercostais, dispneia, desvio da traqueia para o lado oposto ao DP. Os cuidados de enfermagem para a ICC é manter o paciente em repouso no leito evitando movimentos bruscos, administrar fármacos prescritos atentando para aprazamento dos diuréticos, instalar monitor cardíaco e oximetria de pulso, controlar diurese, instituir balanço hídrico, monitorar SSVV, manter o paciente em Fowler, instalar oxigenoterapia conforme prescrição, orientar quanto a dieta e restrição hídrica, aferir FC antes de administrar digitálicos, orientar o paciente e não deixar MMII pendentes  e pesar paciente em jejum. 
Fonte: scielo
   Outra afecção é a angina de peito que é uma síndrome caracterizada por crises de dor ou sensação de pressão na região anterior do tórax causada pelo fornecimento insuficiente de sangue as coronárias diminuindo o suprimento de oxigênio onde na pessoa idosa se manifesta com fraqueza e desmaio, ausência de dor devido a alteração dos neuroreceptores. A angina de peito possui como fatores desencadeantes o esforço físico, frio, dietas calóricas e estresse. E possui três tipos, a angina estável crônica que é caracterizada pela dor ou desconforto no tórax que geralmente ocorre com a atividade ou esforço onde os episódios de dor ou desconforto são provocados por quantidades semelhantes ou consistentes de atividade ou esforço. A angina instável que refere-se à angina na qual o padrão de sintomas se altera, como as características de angina em uma determinada pessoa geralmente permanecem constantes qualquer alteração como dor mais grave, ataques mais frequentes ou ataques que ocorrem com menos esforço ou durante o repouso é grave sendo que tal alteração geralmente reflete um estreitamento súbito de uma artéria coronariana por um ateroma que tenha rompido ou por um coágulo de sangue que tenha se formado onde o risco de um ataque cardíaco é elevado. A angina instável é considerada uma síndrome coronariana aguda. Já a angina noturna é a angina que ocorre à noite, durante o sono. Os cuidados de enfermagem vai desde colocar o paciente em repouso no leito com decúbito elevado, repouso absoluto se for angina instável, promover um ambiente silencioso e calmo, evitar situações emocionalmente desgastantes, administração de medicamentos prescritos, realização de ECG, avaliar resposta medicamentosa à dor, verificar os SSVV e monitorização cardíaca contínua.

   A pericardite é outro distúrbio cardiovascular que consiste na inflamação do pericárdio (saco membranoso que envolve o coração) tendo como causas infecção seja bacteriana (estreptococos, estafilococos, meningococos), viral (influenza) ou micóticas (fungos parasitas) bem como o IAM, aneurisma dissecante, pneumonia, neoplasia, traumas e tuberculose. Tem como manifestações clinicas dor sobre o precórdio, clavícula, pescoço e região escapular esquerda à agravada pela respiração, mudança de posição além de taquipneia, febre. O diagnóstico é feito através da identificações dos sinais e sintomas, ECG e o tratamento consiste em determinar a causa, atentar para a ocorrência de tamponamento cardíaco à bulhas abafadas, diminuição da PA, estase jugular bem como a administração dos corticoides prescritos e um exame físico minucioso se atentando para a ausculta cardíaca de sons de atrito. 
Fonte: Paulo Evora
   Outra afecção cardiovascular e bastante comum é a hipertensão arterial (HAS) que ocorre devido o aumento do volume sanguíneo circulante onde consequentemente aumenta a frequência cardíaca e o débito cardíaco ocorrendo a vasoconstricção nos vasos e aumento da força e velocidade dos sangue circulante. Já falamos sobre a hipertensão arterial nesse post aqui - LINK. Mas vale relembrar que idade, tabagismo, etilismo, sedentarismo, obesidade, ingestão excessiva de sal, problemas cardíacos, fatores genéticos e estresse são fatores de risco. Onde a assistência de enfermagem se inicia com uma boa anamnese (antecedentes familiares, fatores de risco, medicações em uso, hábitos alimentares e de vida, queixas atuais) seguida de um exame físico minucioso onde deve se atentar para a aferição da PA, FC, dados antropométricos, edema MMSS e MMII, pele. Sendo que a equipe de enfermagem deve promover repouso físico para aquele paciente, aliviar o estresse emocional, estimular adesão a restrição de sal, recomendar a interrupção do tabagismo, impor restrições hídricas, administrar anti-hipertensivos prescritos.


REFERÊNCIAS UTILIZADAS

HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 
BRUNNER, L. S.; Suddarth, D. S. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgico. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. 
GUELER, Rodolfo F. Grande Tratado de Enfermagem. 4 ed. São Paulo: Editora Brasileira, 1990.

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